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Meu filho só vive grudado nas telas, o que os pais podem fazer sobre isso?

A era digital transformou a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. As telas, presentes em smartphones, tablets, laptops e televisões, tornaram-se parte integrante do nosso dia a dia. Mas, para as famílias com crianças e adolescentes, surge a dúvida: quanto tempo de tela é saudável?

A história de Luke ilustra essa preocupação. Aos 10 anos, ele ganhou um celular e, desde então, o tempo dedicado a jogos aumentou consideravelmente, tanto em casa quanto fora dela. O peso de Luke subiu, ele se recusa a participar das atividades extracurriculares e suas notas na escola caíram. Recentemente, uma briga física com o irmão após uma derrota em um jogo online intensificou as preocupações dos pais.

Com as férias de verão em curso, muitos pais se perguntam se seus filhos estão passando tempo excessivo em frente às telas e como isso pode afetar sua saúde e desenvolvimento.

Vícios: além das drogas

O termo “vício” é frequentemente associado ao consumo de substâncias como drogas e álcool. No entanto, a ciência reconhece a existência de vícios comportamentais, como o vício em jogos de azar, sexo e, cada vez mais presente, o vício em telas.

Em um vício, a fonte de compulsão se torna a prioridade, levando ao descuido com outras atividades importantes como dormir, comer e se relacionar. Quando essa fonte é cortada, surgem reações emocionais intensas e negativas.

Adolescentes e vícios:

Embora os vícios comportamentais geralmente não se apliquem a crianças menores de 12 anos, adolescentes com capacidade de autorreflexão e autocontrole podem apresentar comportamentos viciantes.

No caso de Luke, a recusa em participar de atividades e a briga com o irmão após a derrota no jogo indicam que o uso da tela pode estar interferindo em sua vida de forma significativa.

Vício em tela: uma questão complexa

A Organização Mundial da Saúde e diversos cientistas reconhecem a possibilidade de vício em telas. Em 2018, o “transtorno do jogo” foi incluído na Classificação Internacional de Doenças.

No entanto, outros especialistas argumentam que o “vício digital” é um mito. É importante lembrar que a questão é complexa e multifacetada:

  • O termo “vício” pode ser carregado e desanimador para alguns.
  • Existem diversas fontes de telas, tipos de mídia e formas de uso.
  • A dependência é um espectro, e nem todo uso problemático configura um vício.

Fatores de risco e proteção:

A pesquisa sobre vícios em telas ainda está em andamento, mas alguns fatores de risco foram identificados:

  • Genética: predisposição individual.
  • Fatores sócio-relacionais: estresse, bullying, baixa autoestima.

É importante ressaltar que a presença de um fator de risco não significa que a pessoa se tornará viciada. Fatores de proteção como apoio familiar, atividades extracurriculares e boa saúde mental também influenciam.

Limites de tempo recomendados:

A Canadian Pediatric Society publicou diretrizes para promover o uso saudável de telas:

Para crianças:

  • Menos de 2 anos: sem tempo de tela (exceto videochamadas).
  • 2 a 5 anos: menos de 1 hora por dia.
  • Evitar telas pelo menos 1 hora antes de dormir.
  • Criar horários “sem tela”, especialmente para refeições e leitura.

Para crianças em idade escolar:

  • Menos de 4 horas por dia de tempo de tela.
  • Enfatizar a curadoria de um envolvimento saudável com a mídia digital.

O que você pode fazer como pai:

As diretrizes da Sociedade Canadense de Pediatria oferecem dicas valiosas:

1. Gerencie o uso da tela:

  • Crie um plano de mídia familiar com limites de tempo e conteúdo.
  • Aprenda sobre controles dos pais e configurações de privacidade.
  • Converse sobre o conteúdo com seus filhos.
  • Incentive atividades alternativas.

2. Incentive o uso significativo da tela:

  • Priorize rotinas fora da tela.
  • Ajude seus filhos a escolher conteúdos apropriados.
  • Defenda a alfabetização digital nas escolas.

3. Seja um modelo de uso saudável de tela:

  • Revise seus próprios hábitos de mídia: reduza o tempo de tela pessoal, evite distrações durante as refeições e pratique atividades físicas offline.
  • Pratique atividades offline: leia livros, pratique exercícios, socialize com amigos e familiares.
  • Desligue as telas quando não estiverem em uso: evite usá-las durante as refeições, antes de dormir e em momentos de interação familiar.
  • Evite telas antes de dormir: a luz azul emitida pelas telas pode interferir no sono.
  • Converse com seus filhos sobre seus hábitos de tela: seja honesto e aberto sobre suas próprias preocupações e incentive-os a fazerem o mesmo.
  • Meu filho só vive grudado nas telas, o que os pais podem fazer sobre isso?

4. Monitore os sinais de uso problemático:

  • Preste atenção ao comportamento dos seus filhos: irritabilidade, ansiedade, depressão, insônia, desinteresse por atividades que antes apreciavam.
  • Fique atento a mudanças no humor: explosões de raiva, tristeza persistente, isolamento social.
  • Observe o desempenho escolar: queda nas notas, falta de atenção em sala de aula, desinteresse pelos estudos.
  • Comunicação aberta e honesta é fundamental: converse com seus filhos sobre suas preocupações, ouça suas perspectivas e busquem soluções juntos.

5. Busque ajuda profissional:

  • Se você estiver preocupado com o uso da tela por parte do seu filho, consulte um profissional de saúde mental ou um especialista em dependência de tecnologia.
  • Existem diversos recursos disponíveis para ajudar pais e filhos a desenvolverem um relacionamento saudável com a tecnologia.
  • Lembre-se: você não está sozinho. A maioria dos pais enfrenta desafios semelhantes na era digital.

Lembre-se: a tecnologia é uma ferramenta poderosa que pode ser utilizada para o bem ou para o mal. Cabe aos pais, como guias e modelos, ajudar seus filhos a navegar nesse mundo digital de forma consciente, responsável e saudável.

Ao implementar as dicas acima e buscar ajuda profissional quando necessário, você pode ajudar seu filho a desenvolver um relacionamento positivo com a tecnologia e garantir que ela seja uma força positiva em sua vida.

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Juntos, podemos construir um futuro digital mais saudável para nossas crianças e adolescentes.